Archive for outubro 2012

Conotação.


A lua com sabor de queijo,
O peixe com o saber da razão,
A vida com gosto amargo,
O amor caindo ao chão.
Conotação, misturando um fato e um retrato
Transmitindo num poema singelo
Tudo quando há de mais raro e belo.
O sol, desmoronando pela janela
Se fazendo vivo aos olhos da donzela.
A lua, nua e crua, insinuante
Igual chuva sem trela.
Conotação, mais que imaginação.
Uma complexidade refletida em simplicidade.
… O vento tirou a flor para dançar,
O momento, fluiu sem pensar.
Com sentido, ou não
A palavra não precisa de explicação. 
Uma ficção tão bem produzida
Que horas da vida, pensamos
Se estamos desfrutando da realidade
Ou apenas flutuando sobre uma nuvem de algodão.
Conotação… 
Dita com mais clareza, seria:
A linguagem da alma.
Tainá Manzoli. 30/10/2012

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Escrever.


Escrevo para alguém que não vê,
Não lê, não observa a melodia
Escrevo pois só assim, terei a certeza
De que o trem passou, mas deixou uma saudade.
Talvez, a mais bonita de todas,
A mais culpada e pura que há.
Escrevo como quem admira o céu
Sem pretensão de tocá-lo,
Como o verso mal acabado.
Cuspa sobre a tinta preta, lambuze estas palavras bonitas
Mas lembra-te que a verdade é uma só.
Num dia o pássaro pousa, no outro vai.
Vai solto com o vento, mas, leva o conhecimento de um amor.
Escrevo como quem se redime aos prantos
Porém, sem encanto, sem barulho… 
Apenas assim, pelo simples fato de não enxergar beleza em tudo quanto é barato.
Escrevo para voar e admirar o medo entrando pelos poros
Numa relva suicida. 
Escrevo para alguém que não me lê,
Mas que me conhece tão bem, a ponto de decifrar-me…
Porque o mundo é breve, e a alma, mais ainda.

            Tainá Manzoli. 30/10/2012

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O sol de cada dia.



O sol foge.
Não espera, não tolera
Simplesmente borra o brilho da manhã.

O sol fere.
Entra, se habita no peito
Na carne fria e sem jeito
Vira pólvora. 

Um dia, um instante,
Um avesso tão complexo
Que distingue o concavo do convexo.

A chama que derrete o olhar
Se remete ao incêndio no patamar.
Com um lápis, nem mesmo o desenho mais singelo
Transcreveria ao céu, um raio tão fugaz e belo quanto o sol.

O suor, a lágrima, o lago
Escorrendo, esvaindo, secando.
Do alto da montanha, nem mesmo o vento revolto
Abre lugar ao inverno.

Um tempo rude, passageiro
Feito a pincel para quem teme o inferno.
Mais um dia e pronto,
Um estrondo e uma explosão.

O sol vence.
Tudo quanto era valente
Se dilui na chama, quente, quente…
E agora, quem é valente?

Não atente, não ostente…
Se aquete, se apresse…
Na lama, o inferno prevalece. 

Quem vence?
Quem vence?
O pobre inocente?
Quem é inocente?
        (…) 

  Tainá Manzoli. 29/10/2012

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Momento exato.


Nunca é tarde demais ou cedo demais
Para abrir um jornal e observar o movimento
Das folhas ao vento.
Nunca dirão, com convicção, que o céu
Anoitece e renasce, num piscar de olhos.
O fato, logo escasso
Não espera a hora exata.
Neste segundo, em que o pássaro pousa no galho
O galho enfraquecido, se tomba ao chão
Sem razão, apenas por tombar. 
O momento errado, o desejo teimoso
A risada escandalosa, o tempo entre cair e se levantar.
Ainda que a vida fosse certa, nem mesmo a reta do horizonte
Distinguiria o mar do barco de papel.
Nunca é cedo. Sempre estamos atrasados
Seja para pegar uma condução ou pensar no passado.
Mas sim, somos adiantados, o relógio não se esfria
Portanto, corremos contra o cansaço.
Amamos antes do prazo e derramamos sobre o solo
Lágrimas, que regam lembranças importunas. 
Somos culpados, por produzir poluição
Não somente no asfalto, mas também no coração.
O carrossel, em sentido contrário, demonstra
A falta de atenção, o som que entra pelos poros
E sai destorcido como roupa no varal.
O momento exato se encontra no dia errado.
A verdade é que, vencemos pelas costas de um perdedor.
O choro está ali, para ser despejado,
O poema está ali, para ser recitado,
As flores para serem regadas, o bom para ser apreciado.
Mas, não há quem entenda
Que em tal assunto, o difundo sempre acaba como culpado.
O momento exato nunca aparece
Portando, não sabemos de nada.
Sempre é cedo demais para abrir os olhos
Ou, em alguns casos, tarde demais para despertar. 
… Tudo vira pó,
    E um nó na garganta.
    O fato ou o retrato,
    O momento e o atraso…
Tainá Manzoli. 25/10/2012

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Meu "eu".


Minh’alma cansada
Vaga como caça desprezada,
Minha fé inabalável pende aos cantos
Como flor sem encanto. 
Quanto viverei, já que
O olho pisca, indignado
Procurando cor no quadro estampado?
Minha vida, esquecida, flutuando aos céus
Se lamenta, como peixe fora d’água.
Quanto vale tapar o peito
Mas, sem jeito perder-se num barco de papel?
Mar que naufraga,
Mundo que não tolera
Minha paz de velha,
Morreu no barulho dum trem sem destino.
Uma lágrima, uma sombra
Um fato consumado, um escombro.
Óh, caí sobre meu próprio veneno
E ainda assim, posso ouvir o eco do tombo.
Vindo de longe… tão longe… e perto… 
Tainá Manzoli. 24/10/2012

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Tudo vira nada.


O pulso pulsa,
A lua pulsa,
A rua pulsa.
Tudo se mantém vivo.
O anjo cai
A felicidade esvai
O mal atrai.
Tudo não passa de um segundo.
Aqui, ali, nada se faz vivo
Na memorável escuridão finda
Até a vida vai por água abaixo.
Sem salvação, sem comemoração
O sol não acorda jamais.
Ele dorme, nós dormimos
E por puro desatino, acabamos num abismo.
Tudo vira nada.
Sem paz, sem pais, sem pátria.
Tainá Manzoli. 24/10/2012

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Admiração.


Contemplo horizontes distantes,
Carrego fardos sobre o corpo,
Mas, tanto se fez, que até mesmo o choro
Abriu espaços ao entusiasmo.
Depois, vi-te por entre o azul da manhã
Sorrindo como um pássaro fiel
Desejei ardentemente teu doce olhar
Porém, o tempo trouxe-me somente o fel a estampar a escuridão.
Por ti, desabei sobre folhas nulas
Plantei o cinza, colhi o desamor.
Mas, que importa, já que a vida
Só se dá pra quem se deu?
Observei tua alegria pela janela,
Todas as cores juntas, num só segundo.
Até mesmo o brilho da mais linda pedra preciosa
Se rebaixou, perdendo para teu mundo.
Em que casulo vives? Onde encontras afeto?
Seja lá ou cá, resta-me uma singela admiração.
Satisfaço-me com o som que exala das tuas pegadas
Enquanto brevemente perco o sentido da razão. 
“Que o silêncio deste segredo
Acoberte esta ilusão.
Mas, sim, por ti, digo:
Teu suspiro, vale mais que um milhão.”
                                               
                                             Tainá Manzoli. 23/10/2012

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Moça entre na dança.


Pego tua mão, entrelaço-me junto a ti numa mesma oração,
Teus cabelos esvoaçantes, rodopiam
Conforme a dança, seguindo o vento 
Que vai ao leste voltando a oeste.
Agarro a melodia como a única coisa viva no momento
Como o único som, exposto, atento.
Teu vestido de seda, banhado por rubro
Exala num segundo, o calor da paixão.
Moça, que há de mais, hoje é domingo
Amanhã, tanto faz.
Moça, não vá, tua carisma alimenta meu instinto
Distinguindo o preto e branco do labirinto.
Giro-te como um pássaro,
Tu, com olhos de Capitu, voa como pluma. 
Envolvida na dança, seu corpo samba
Balançando como folha de árvore,
Fluindo como num passe de mágica.
Moça, esquente teu peito, esmague esse jeito
De pessoa sem sal.
Entre na roda, hoje é domingo
Amanhã? Não importa.
Seguro em tua cintura, teu olhar transmite paz
E então, num súbito, voamos ao céu.
Da dança, fizemos o trampolim, 
De ti, fiz o barco de papel
Este que navega sem rumo
Num mundo redondo feito carrossel. 
Tainá Manzoli. 16/10/2012

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Ao final do dia.


Mas, ao final do dia nada faz sentido,
Até mesmo o sol amigo, vai dormir.
Ao final, a escuridão e a dor no coração
Por pensar que talvez não exista amanhã.
Mas, quando as luzes se apagam a estrela brilha 
Como se tudo fosse raro, como se a noite fosse rima.
Porém o segundo não vale mais a pena,
O instante acaba onde a visão alcança.
Num desmazelo interior, tudo quanto era bonito
Se transforma em uma cascata para o infinito.
Dos olhos, um breve reflexo se ressalta
Mostrando com gestos a paz agora intacta.
Ao final, a alma cai sobre mantos límpidos
Retornando ao sonho, fluindo como nuvem mansa.
Mas, quando a chuva alaga, o vidro embaça
E da janela já não se pode mais ver graça.
Ao término do dia, um pingo de sangue sobre o sapato,
Um aviso na porta, um choro condenado.
O que sobra, antes e depois do leite derramado?
O que há além do teto, senão telhado?
Depois, um trampolim impulsionando para o nada,
Um riacho que deságua na boca do amanhecer.
Digo que, a noite crava olhares por todo lado
E, não tira jamais.
O que vem depois do mar aberto?
A face sem reflexo ou o exterior complexo?
Ao final do dia João é Maria, e tudo que engrandecia o peito
Vira pó, no imenso prazer clandestino da escuridão. 
Tainá Manzoli. 16/10/2012

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A morte vista por três ângulos.


Dum lado, o espírito de viver.
Calmo, como se fosse eterno
Sábio como um mar turbulento.
Num ângulo pode-se observar o medo de morrer,
Os olhos atentos a qualquer movimento suspeito,
O peito sofrendo, não aceitando o fim.
Do outro lado, a necessidade.
A alma estilhaçada vagando em busca de consolo,
Procurando no tempo uma brecha para padecer.
Desistir, sentar à beira de um lago,
Cantar cantigas de ninar, e cair sobre as próprias lágrimas.
Neste ângulo pode-se observar a derrota apoderar a mente
E a vida pendendo aos cantos, pedir final. Quanto antes melhor.
Por fim, a peça de teatro.
Os atores animam, ensinam, dançam e não se importam.
Não pensam, somente vivem o instante e o agora.
Como num súbito, os gritos saem de cena, dando lugar ao silêncio dominador.
Neste ângulo pode-se sentir a morte serena,
Que entra pela porta, sem aviso, sem medo, sem querer
Assim, tão de repente quanto a escuridão.
Três ângulos.
A morte esperada,
A morte planejada
E a mais pura de todas…
A morte rápida como chuva num dia de verão.
Fim… (de quê? Mas e quanto a vida que ainda não vivi? Eu ei de morrer sem me despedir?)
Tainá Manzoli. 15/10/2012

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Setembro.



Mas, era setembro
Mês que antecedia outubro
Mês que trazia na bagagem um certo barulho 
E uma escuridão inatingível.

Mas, era setembro
Mesmo que com cara de novembro.
Não havia nada de especial, não existia carnaval, vendaval, amor
Mas, era setembro.

Para todos os casos existia um calendário dependurado na porta,
Porém um mês tão infeliz não deveria ser lembrado… mas era.
Setembro, entrando e trazendo uma nova era de desilusão
Juntamente ao padecer da razão.

Não. Os pássaros não cantavam,
Os cães não uivavam,
Os seres não bailavam
E o lago, esquecido no mesmo lugar de sempre, morria aos poucos.

Anjos não batiam mais a porta,
Sonhos não fluíam como antes.
Mas sim, era setembro, mesmo que tristonho e indiferente,
Era setembro, mesmo sem ilusão.

Meu setembro,
Perdido no tempo
Naufragado sobre a solidão…
Setembro… 
Sem tempo, mas sempre setembro…
Que vai e volta, bate na porta e entra sem permissão…

Tainá Manzoli. 15/10/2012 

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Fio de cabelo.


 Grudado no paletó
Um fio, cor de ouro
 Balança, como balanço ao vento.
 Impregnado, o cheiro de uma mulher 
 Se faz vivo, deixando vestígios de uma noite qualquer.
 Um fio, comprido, caído e esquecido num pedaço de pano…
 Digo que, se ele não é da mulher que amo, de quem será?
 Grudado no paletó, balançando contra o vento
 Este cabelo, se faz indecifrável. 
 Noite passada não me lembro, mas
 Como este fio fino que agride o pano liso
 Não é da mulher que a muito tempo me guarda, me abriga?
Derrubando o sossego, perfurando o segredo 
Não há nada a ser pensado neste instante maldito. 
O cabelo, transcreve calmamente a verdade exposta. 
O que houve de tão esplendido que não me lembro? 
 Cor de ouro, balançando como balanço, trazendo desconforto…
  […]
Depois, após o gorjeio dos pássaros, antes da escuridão
Revelo que, sinto profundamente a culpa acariciar-me, negando perdão.
Depois do fio de cabelo, um verso tão discreto
Que indiretamente descreve o segundo de desatenção.                 
[...]
Moça… esquecemos o fio no fundo do paletó.  
Que direi a mulher que amo? Que amo por engano?
Que fujo num dia? Que me encontro noutros cantos?
O que questionarei contra o fato? Direi que provei outros lares
Ou que necessitei de um abraço?
Moça... traí sem piedade,
O que resta-me agora, senão a saudade da mulher que amo(amava, amei)?
 "Sinto muito", somente. Sinto uma lágrima banhar o nulo e a dor imortal.

      Tainá Manzoli em "Confissões que só se fazem minutos antes da morte, num silêncio findo." 13/10/2012

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Vento.


Este verso reverso
       Não faz sentido algum
             Ele apenas imita o vento
                  Que vai ao leste, correndo
                        Chegando a lugar nenhum. 
                                                 Indo avante, regredindo pra perto
                                           Deixando no ponto de partida um cheiro incerto.
                                    Vento que banha o verso,
                              Que mal há em ser tão complexo?
                       
                      voando, c 
                                      a
                                        i
                                         n
                                           d
                                             o, cantando, fluindo. 
                        Em direções opostas, em momentos distintos,
                            Como um sopro, forte, quente, fulminante, falido…
                                Há sentido? 
                                   Vento sem tempo, verso sem veneno.
                                      O que há de estranho em tal pensamento?
          Tainá Manzoli. 11/10/2012

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Enquanto você dormia.


Lembro-me do riso, caído sobre a mesa
Do instante fugaz que voou junto a avareza do silêncio.
Enquanto a janela se mantinha fechada tudo o que havia de mais vivo
Continuava intacto, junto aos estilhaços de nosso abrigo.
Depois da melodia, o fracasso
Depois da cantoria, a lonjura dos corpos.
Nada se fez sólido, nem mesmo o relógio a dar horas,
O mendigo a pedir pão, o fiel a redimir-se.
Enquanto você dormia, homens de honra lutavam pelo países,
Poetas aflitos se diluíam em solos frescos
E ventos rasgavam a noite esquecida no livro.
Querida, tanto se fez, tanto se desfez, e você dormiu.
Após o frio, depois do inferno
Anjos saltaram sobre prédios caindo lentamente sobre nós.
A beleza que a muito estava escassa se fez aparente
E tudo que era diferente se fez mais humano.
Desde a morte de um indigente até o brilho de um nobre carente.
Enquanto seus olhos fechados serviam de vendas aos sonhos
Amores se tornaram flores e estrelas cadentes açoites.
Nesta noite escura, fria e nua, a verdade insistiu em pousar
Em teus lábios, acariciando teu sabor. Onde você estava? Bem, você não viu.
No breve tempo em que seu corpo caiu sobre o sofá
Meu amor insistiu em deixar um bilhete, perdido dentre teus cabelos.
Dizia, com letras saltitadas e grandes que minha paixão por ti
Ia muito além da ilusão do desejo.
Enquanto você dormia, meu bem, eu curtia teu silêncio…
Assim, em segredo…
Em segredo somente.
Tainá Manzoli. 10/10/2012

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