Archive for agosto 2012

Eu sou.


Sou pequenina como uma formiga,
Grandiosa como a lua,
Ofuscada como a escuridão da noite,
Brilhante como o sol.

Sou o silêncio de frente para o crime,
Os gritos do doente desalmado,
A solidão da lua cheia,
A multidão de sexta-feira.

Sou uma memória perdida na recordação,
Uma lembrança não mais lembrada,
Aquele peixe fora d’ água,
Que morreu afogado.

Sou o passado mal desvendado,
O presente mal escrito,
O futuro mal sonhado,
Menina dos sonhos quebrados.

Sou um piano desalinhado,
Um violino desafinado,
Um violão mal tocado,
Um amor mal amado.

Sou e sempre serei a menina dos olhos de fel,
Dos lábios de mel,
Dos versos de papel.
Sou a eterna sonhadora da vida,
A criança do laço de fita,
Que nasceu entre as dúvidas e dívidas.

Sou o muito que falei,
Ou o pouco que contei.
Sou os segredos que relatei,
Ou o silêncio que jamais desvendarei.
                                                                         Tainá Manzoli

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Já vi de tudo nessa vida.



Nas entrelinhas deste céu que hoje desaba sobre mim,
Ouço os sons da noite perdida.
Dentre as estrelas e os jasmins sonolentos,
A certeza, de que todo o amor do mundo foi doado com franqueza.


O azul do infinito se faz de lembranças ao coração morto,
A chuva não se atreve ao inferno escaldante.
As memórias, as vitórias, as partidas,
Guardo todas as despedidas, que sequer o amor foi capaz de impedir.


Soterrado sob os lençóis manchados a tinta, vejo meu sorriso sem graça.
Amargo como a ira, venenoso como o vento que oscila entre os corpos.
A verdade, é essa. Sem demora, e depressa, confesso:
Meu peito chora as lágrimas que outrora omiti por vergonha.
Meus olhos sufocados negam-se a brilhar novamente,
Meu silêncio se esgota. Eu bato na tua porta. Eu grito, procurando uma esmola.


Óh, vida passageira, que judia dos inocentes,
Óh, sentimento barato, que fere nossos pés cansados.
Nas lacunas deste vazio rude, observo as vozes alheias,
Já vi de tudo. Sereia, lua cheia e furacão…
A única coisa que não, foi teu riso na minha solidão.


Tainá Manzoli. 29/08/2012

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Não se vá, querida.


Querida, te vejo perdida neste derradeiro sombrio,
Te sinto desbotada, sem cor e com mágoas.
Presumo que dos teus olhos pouco desvendarei,
Porém desta fala mansa, o segredo rapidamente adivinharei.


Querida, veja então como o mundo é injusto,
Você, agora afogada por entre este fim frio,
Agora, pobre flor despetalada que
Chora baixinho e deduz que o brilho das estrelas é salvação.


Talvez sim, talvez não. Talvez o paraíso seja pequeno ou do tamanho do teu coração.
Querida, feche os olhos e sinta o vento que banha sua face,
Reflita sobre teu lar, antes que depressa a morte venha te esmagar.
Neste leito se renda… você não tem culpa… mas…


Encontre nesta etapa final, um recomeço para a vida eterna.
Anjos se vão, não se sinta distante.
Querida, neste sossego agora desdenho, peço teu silêncio.
Ouça minha vós e vá em paz. “Te amei como ninguém foi capaz.”

Tainá Manzoli. 26/08/2012

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O adeus de um homem desprezado.


Que saudade pequena esta, que ultrapassa os limites da razão…
Que sentimento este que não se vai junto aos ventos da imaginação…
Que paciência esta que sempre espera o perdão…
Que desejo ardente este que me prende ao teu coração.
Você, luz que ressalta ao inferno,
Calor que aquece o inverno.
Menina, horizonte azul distante, 
Obscuridade que ultrapassa as vidraças da solidão.
Teu amor, magnifico amanhecer estrelado,
Rua de ladrilhos pintados. Cores, sabores, calores.
Garota dos olhos fundos, pequena guerra sem paz,
Grande peixe fora d’água, minha felicidade fugaz.
Que saudades que tenho, de ti, de tudo, de nós.
Óh, velhos outonos passados, mortos na ideia de um recomeço sem fim,
Óh, velha amante, dos sonhos flutuantes, dos reluzentes olhares,
Do suor derramado sobre os lençóis de cetim,
Do amor jogado no canto do botequim.
Óh, querida, agora apodrecida no fundo do meu peito,
Lhe desejo paz, e assim meio sem jeito, um adeus apertado.
Um tchau, tchau do homem desprezado que tanto te amou…


Tainá Manzoli, 26/08/2012 

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A morte é diferente daquilo que se vê na tevê.


… As vozes não se calam. Sinto-me preso, acorrentado, jurado a prisão perpétua. Meus lábios opacos e frios, estão em decomposição. De minha boca, se quer pronuncio uma palavra. Tudo silencio, com a mais breve voz como quando o vento oscila. Guardo dentro do peito as tardes fagueiras, os dias risonhos, o canto dos sabiás. As músicas tristes, os prantos solitários e um pedaço de mar. Sou o cinza das tardes chuvosas, o ruído imponente, os olhares curiosos, a chama quente. Me visto de amor e logo estou a boca do abismo, porém, se me vejo sem ele, sou um ser sem sentido.
Logo quando a noite caí, e a cidade silencia, não ouço mais o som das buzinas. Dentro de quatros paredes, meu “eu” se revela. Olhando ao espelho, minha face, desconheço. Sou tão rude quanto a verdade nua e crua. Com minhas lágrimas tingidas, escrevo nas paredes um poema qualquer. Transformo estes espaços brancos, em um inferno completo. Na calada da escuridão, eu sei bem quem sou. Sou o teu amante, seu perfume amargo, suas rosas vermelhas, seu náufrago. 
Minha mente não se cala. Sinto que carrego junto ao peito um cemitério. Vez ou outra as almas voltam para a superfície, se engrandecem, se exalam, se transbordam, porém perdem suas identidades e morrem. A foice atrás da porta continua intacta. Eu arrisco, insisto, persisto, progrido, mas acabo estraçalhado em cima da cama. Sou o sangue que banha a noite, sou um rio de desamores.
Meus últimos suspiros anunciam o fim. O vento apaga a vela, a borracha apaga o lápis, e eu apago a vida. Sem graça, visto minha roupa branca, e me sepulto à beira da janela. Os vizinhos olham, as rosas choram, a vida se emudece. Bem que eu pensei, a morte é serena, vale a pena. 
Ele olha,
Ela chora,
Ninguém acredita.
Diante de um homem morto, todos duvidam. 
João faz uma oração,
Maria… óh, que agonia!
Caetano então, joga um pano em cima da poesia. 
Todos olham, mas, ninguém crê,
A morte é diferente, daquilo que se vê na tevê. 

Tainá Manzoli. 18/06/2012

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Há de haver no mundo.


Haja beleza neste mundo para suprir as faltas de amor,
Haja gratidão entre as pessoas para agradecer com louvor.
Haja forças o bastante para sustentar as razões na corda bamba,
Haja egoísmo exacerbado para negar doces a uma criança.

Há de haver… Um dia os seres hão de entender.

Haja música para aquecer o coração dos que sofrem,
Haja silêncio para fazer com que os olhos falem por si.
Haja paz pra mim, pra você e pra todos os pecadores,
Haja então, neste rio poluído, algumas verdades naufragadas.

Há de haver, alguém no mundo que entenda.

Haja lenços para secar a raiva estampada aos nossos olhos,
Haja sangue o suficiente para banhar nossos corpos.
Haja estrelas para contar-mos à noite,
Haja escuridão para tapar os olhos dos sonhadores.

Há de haver, alguém no mundo que entenda.

Haja flor para brotar,
Culpa para acusar,
Raiva para matar,
Fogo para queimar.
Há quem entenda, que neste lugar, ninguém pode se salvar. Há de ser dito que a felicidade não pode ser escrita nas ondas do mar.

Há de haver alguém no mundo que olhe ao redor e entenda.
Entenda que… não há nada a ser entendido. 

Tainá Manzoli. 13/08/2012

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Alma de vidro.


“Quem não têm teto de vidro, que atire a primeira pedra.”

Lá fora é calmaria, silêncio profundo, felicidade exacerbada. Lá fora as crianças brincam, sorriem e sonham com o futuro. Lá, a vida existe. Aqui, não. Dentro de minha própria solidão, os ventos são contrários. Rego com amor a dor. Deixo que dentro de minh’alma floresçam espécies selvagens de animais. Ora sou um cachorro manso, ora sou um leão sem descanso. Minhas faces tão opostas causam más impressões, mas não vos enganeis.
Minha alma - pobre lugar vazio - chora ao som das acusações falsas. Se quebra, como um espelho velho em contado com um reflexo perplexo. Sangra, como cortes horizontais na veia. Minha mente crucificada na cruz, clama por socorro. Prenderam-me e acusaram-me por um crime que não cometi. Cuspiram sobre minha cabeça, jogaram terra sobre meu oxigênio, partiram minhas esperanças e dilaceraram meus olhos. Não vejo mais como antes. Agora, enxergo apenas vultos mortíferos, pessoas culpadas, palavras mentirosas, sangue pelos muros, dor e raiva. Sinto que ando por um abismo, que me equilibro em uma corda bamba, que caio a todos os momentos em cima de espinhos de rosas em decomposição. Imagino então que, não há mais salvação. 
Colocaram veneno em minha bebida. Deram-me as chaves que abrem essa prisão, ensinaram-me a ser pobre de coração. Minha alma de vidro se espatifou. Riram, apenas isso. Aplaudiram a desgraça alheia. 

“Aquilo que se faz, é aquilo que se paga,
Quem nos tira a paz, há de rolar na desgraça.
Acharam que barato iria ficar, 
Que depois de matar, culpa não iriam levar.
Pois bem, se enganam, enfim,
Quem mata assim, com sangue há de ficar vosso jardim. 
Com o peso da culpa, alma nenhuma se mantém em paz,
Incapaz de ser salva, se torna fugaz, 
Pois então, assim, enfim, amém!”
Tainá Manzoli. 09/07/2012

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Amor é flor?


Vagando em pensamentos, repito baixinho:
Amor que se parece flor, há de florescer…
Quando verdadeiro, se parece carnaval,
Quando falso, há de apodrecer.
Flor pode voar, viver e morrer,
Amor pode negar, e nem vir a crescer.
Pois então, como coisas tão opostas podem se parecer?
Flor que causa beleza aos olhos,
E amor que é duvidoso…
Flor que brilha sem cessar,
E amor que não sabe nadar… Em qualquer mar de mágoas se afoga.
São faces tão opostas, ventos tão contrários e perguntas tão retóricas…
Como se fosse possível, uma flor ter o reflexo de um amor,
Um abismo ter a mesma face de um escritor…
Impossível.
Para mim, já que sou um sonhador mal-amado, palavra nenhuma tem significado.
Afundado com a bunda na cadeira funda, penso que,
Amor é flor que não brotou, calor que não queimou, choro que não chorou,
Ferida que não estancou, raiva que não passou, rima que não rimou.
Suave como um suspiro, forte como o desamor…
Amor é o que dá sentido à vida, e flor é somente flor… Broto do céu,
                                                                                      desenho de papel…
                                                                                             […] 


Tainá Manzoli. 02/08/2012


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Entenda como quiser.


Noite escura, lua brilhante, olhos acesos, barulhos incessantes. O coração pulsa, o cérebro se mantém estático, as rimas se embaraçam e nada parece valer a pena. De um lado, os políticos corruptos, do outro os desamores. Perdido por dentre o quarto preto-e-branco, acho-me em um mundo cinzento. Ninguém me enxerga, mal consigo ver a mim mesmo. O escuro é maior que qualquer luz.

Tempestade fria que banha minha alma,
Deixe-me ser raiva e ao mesmo tempo calma.
Quero descobrir os segredos dos meus próprios olhos negros,
Já que ninguém os tem feito.

A fúnebre música ecoa por toda a alma. O lirismo exala raiva, segredos nunca contados, coragens ocultas. A razão parece misturar-se neste triste lago de mortos-vivos. O sangue continua a escorrer, só que desta vez, morrendo lentamente sobre as batidas breves do coração. Os pés dançam sobre o solo desgastado, os olhos piscam atordoados. Mais um passo à frente e, me vejo na boca de um abismo.

Me despeço, me tropeço, me guardo, me aqueço,
Sou saudade de verão, solidão que não tem preço.
O inferno é escuro, cor dos meus olhos tristes,
Me contento, descontento, e indago:
Sou sombra de mim mesmo, ou luz sem franqueza?
Sou céu de primavera, ou mar de incerteza?
Sozinho, sem cor. Sou amor e dor. Ambas faces de uma mesma moeda.
Será?… 

Atônito, nada mais faz sentido. O mel agora é amargo, e o mendigo, meu amigo. Chorei um rio de mágoas, e dormi sem ser entendido. Ninguém tivera a curiosidade ou capacidade de me desvendar. A música acabou, o escuro apagou. Morri sem ser descoberto. 

Tainá Manzoli. 25/05/2012

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Ainda que.


Ainda que teus olhos se emudeçam,
Que tua voz se perca na imensidão
E teus passos sejam apagados
Eu digo: Teu brilho permanecerá.
Ainda que suas rimas se suicidem,
Que teu cheiro amargo se esvaia
E seu silêncio se torne ensurdecedor
Eu digo: Maior é o meu amor.
Ainda que seu pranto não me convença,
Que sua razão se perca na ilusão
E seus lábios morram esgotados
Eu digo: Eterno serás teu riso.
Ainda que a verdade seja outra,
Que a solução não apareça
E a luz se transforme em trevas
Eu digo: Te sonho de novo,
E então tudo se concretizará.
Deste infame abismo, nos acharemos em meio às flores.
Seremos dois seres em um só coração.
Ainda que… sem fim seja este poema,
Tua face me guiará.
Que grande seja teu modo de falar…
Deslumbrante como o céu e o mar!
Tainá Manzoli. 23/07/2012

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Relatos de um alguém que ama o que não pode ter: O dom da escrita.



Escritas tolas, palavras chulas, balbucias transcritas a um papel sem cor. Nada se reflete por esse espelho negro, moldado ao tamanho exato da solidão, manchado por gotas vermelhas de sangue. Os sentimentos transbordam do peito, caem sobre as rosas brancas, mancham o tapete de veludo, riscam os discos de vinil, rompem laços e transformam tudo em nós. Estes que apertam, sufocam as mãos calejadas, cansadas, mortas de todo um dia. A caneta pulsa sobre a mão, parece ter vida própria, escreve sobre tudo e fala quase nada. Em silêncio ela trabalha e exala cheiros tremendos. Será magia ou sentimentos?
Textos sem nexo, parágrafos, pontuações. Meras palavras caídas sobre um maço de papéis brancos, nulos, sem vida alguma. Quanto vale um poema qualquer, de uma pessoa qualquer, com alguns pensamentos quaisquer? Nada, nem mesmo um pedaço de céu ou uma rosa amassada. 
Sempre gostei disso, dessa tal confusão de pensamentos, ilusões, sonhos despedaçados. Sempre quis ter um bloquinho e uma caneta ao lado. Sempre gostei de rimas sem coerência, cor sem beleza, queda sem chão, pássaros de outras criações, anjos sem corações.
A noite se aproxima, o céu se escurece, a inspiração não chega e os pés não se aquecem. Sinto frio por toda a alma, quero escrever textos bonitos, mas insisto e não consigo. Duas ou três linhas são escritas e isso é o máximo que sei fazer. Falei sobre mendigos apodrecidos e gritos ao entardecer. A poesia foi dormir, então, isso foi o que consegui produzir. 
Sou uma estátua moribunda, pedaço do “não viver”. Me sinto como um leitor que não sabe escrever. Pobre de mim que ama aquilo que não pode ter. 
Tainá Manzoli. 23/05/2012

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O azul do infinito



Meu céu de papel,
Meu mar à naugragar,
Óh, beleza que deslumbra,
Óh, leveza que nos faz voar!

Hipnotizado por este horizonte distante,
Perdido em tal sonho errante,
Observo, atentamente, as luzes que dançam entre as sombras.
Elegantes, vibrantes, radiantes…

O azul desbotado me faz sonhar,
E pensar que diante deste vasto infinito, anjos existem.
Óh, mera imaginação falsa.
Mal sei sobre mim mesmo, mal sei o que é alma.

Ao som das perguntas retóricas,
Danço junto a minha derrota.
Mais uma vez fiquei na dúvida,
Novamente, caí aos braços da sem graça anedota.

Ao longe, um borrão qualquer.
O aquarelar da tarde fugiu em seu cavalo branco.
Me perdi na ilusão de um dia bom,
Me achei aos prantos…

(Que bobagem, ora essa,
Não enxergo mais beleza na leveza de ser livre.
Taparam meus sentidos, e então o azul do infinito se tornou…
Um desconhecido. Ora, mas que irreverência com meu coração
que só soube ser fiel ao céu e ao mar.
Céu de fel, mar a me esmagar…
Morri por descobrir que me afoguei na astúcia de amar…
Amei o impossível, óh, que incompreendível.)
Tainá Manzoli. 12/07/2012

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Minha vil existência



A noite caí. Debruçado sobre a janela, vejo adiante uma luz. Oh! Que bela. Luz que irradia as mágoas, que transforma a solidão em esperanças. As sombras se unem, os ventos oscilam, a calça de brim dependurada no varal dança. Todas as assombrações já foram dormir, as ruas estão vazias, cheias de nada. Nenhum pedaço de amor jogado à sarjeta, nenhuma marca de sangue rubro, nenhum cheiro de raiva, nenhuma alma morta vagando pelas esquinas. Nada, nem mesmo a solidão da sexta-feira. Como a chuva, o silêncio vai lavando a alma, levando todas as dores passadas, todos os pesos pesados. Meus ombros se aliviam, meus olhos sorriem. Assim, perdido, soterrado, único, mal interpretado, vou deixando. Deixando meus suspiros ofegantes pela noite como prova da minha vil existência.
Pouco me importo se serei lembrado, se serei amado e se vão gostar dos meus versos escritos a tinta. Não ligo se o mundo acabar hoje, amanhã ou depois. Tudo o que tenho de melhor está dentro do meu coração, onde poucos podem ver e quase ninguém pode roubar. Então, assim, como prova de meu sofrimento e amor, deixo estas rimas. Ninguém as entende, mas, isso é tudo o que tenho. Perdi minha certidão de nascimento, esqueci meu nome, minha idade, e de onde vim. Pode um homem ser considerado gente, mesmo assim? Ponto, assunto encerrado. Não sou nada, nunca serei. O jogo acabou, a cortina se fechou. Oras, esqueceram de bater palmas a mim. 
A vela da mesa se apaga. O escuro é repleto por dúvidas. Afundado sobre a mesma cama onde outrora me amei, agora, não mais me encontro. A noite que move o mundo continua ali, posta diante da minha janela, só que desta vez agarrando-me à sua obscuridade. Seus longos braços me apertam, me aquecem e despertam com tal voracidade meu sexto sentido. Mais vivo do que nunca, morro na espera. Esperando na mesma janela de sempre, a tão bela primavera que nunca chega. Vivendo tão repentinamente que se quer tive a destreza de renunciar à morte.
“Ainda que você não ouça,
Que o mundo não entenda,
E que os pássaros não saibam,
Eu digo: de tão velhas minhas esperanças,
Morri desbotado, sem ter amor e sem ser notado.
Parti para longe, fugi da multidão, caí no inferno, aqui jaz um coração.”

Tainá Manzoli. 05/07/2012

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