… As vozes não se calam. Sinto-me preso, acorrentado, jurado a prisão perpétua. Meus lábios opacos e frios, estão em decomposição. De minha boca, se quer pronuncio uma palavra. Tudo silencio, com a mais breve voz como quando o vento oscila. Guardo dentro do peito as tardes fagueiras, os dias risonhos, o canto dos sabiás. As músicas tristes, os prantos solitários e um pedaço de mar. Sou o cinza das tardes chuvosas, o ruído imponente, os olhares curiosos, a chama quente. Me visto de amor e logo estou a boca do abismo, porém, se me vejo sem ele, sou um ser sem sentido.
Logo quando a noite caí, e a cidade silencia, não ouço mais o som das buzinas. Dentro de quatros paredes, meu “eu” se revela. Olhando ao espelho, minha face, desconheço. Sou tão rude quanto a verdade nua e crua. Com minhas lágrimas tingidas, escrevo nas paredes um poema qualquer. Transformo estes espaços brancos, em um inferno completo. Na calada da escuridão, eu sei bem quem sou. Sou o teu amante, seu perfume amargo, suas rosas vermelhas, seu náufrago.
Minha mente não se cala. Sinto que carrego junto ao peito um cemitério. Vez ou outra as almas voltam para a superfície, se engrandecem, se exalam, se transbordam, porém perdem suas identidades e morrem. A foice atrás da porta continua intacta. Eu arrisco, insisto, persisto, progrido, mas acabo estraçalhado em cima da cama. Sou o sangue que banha a noite, sou um rio de desamores.
Meus últimos suspiros anunciam o fim. O vento apaga a vela, a borracha apaga o lápis, e eu apago a vida. Sem graça, visto minha roupa branca, e me sepulto à beira da janela. Os vizinhos olham, as rosas choram, a vida se emudece. Bem que eu pensei, a morte é serena, vale a pena.
Ele olha,
Ela chora,
Ninguém acredita.
Diante de um homem morto, todos duvidam.
João faz uma oração,
Maria… óh, que agonia!
Caetano então, joga um pano em cima da poesia.
Todos olham, mas, ninguém crê,
A morte é diferente, daquilo que se vê na tevê.
Tainá Manzoli. 18/06/2012